domingo, 12 de julho de 2015

Os garotos mais inteligentes do mundo: como Finlândia, Coreia e Polônia se destacam no PISA


Eis o mistério: por que alguns alunos aprendem tanto e outros tão pouco? No teste internacional do PISA, mede-se não apenas a capacidade de memorização (decoreba), mas também e principalmente a capacidade de raciocínio, e criatividade, de pensamento crítico. Por que alguns países se destacam nesses testes enquanto outros afundam na mediocridade?

Com essa questão em mente, Amanda Ripley foi atrás de três alunos americanos que foram estudar, respectivamente, na Finlândia, na Coreia do Sul e na Polônia. Ela queria compreender o que esses países faziam de diferente dos Estados Unidos para se destacarem no PISA. Além dos três que ela acompanhou de perto, mais de 200 alunos foram entrevistados. O resultado é o livro The Smartest Kids in the World: And How They Got That Way, que explora as principais diferenças entre os modelos de ensino de cada um desses países.

O foco da autora é entender o relativo declínio americano, que já liderou o ensino no mundo, mas hoje precisa conviver com mais de 20 países à frente nos testes internacionais. O que o PISA expôs, logo de cara, é que não adianta jogar mais recursos públicos na educação, se o modelo for equivocado. Não era o gasto por aluno ou em relação ao PIB que realmente fazia a diferença no resultado final, algo que deveria ser lembrado quando populistas celebram, no Brasil, o gasto de 10% do PIB no setor imposto por novas leis.

A importância da educação – da boa educação – no crescimento de longo prazo de uma nação é algo demonstrado por economistas com estudos estatísticos. A correlação com o PISA é enorme. O “detalhe” importante, porém, é qual educação, ou seja, se esses alunos estão realmente aprendendo coisas úteis e, acima de tudo, a pensar por conta própria, a raciocinar.

O caso coreano chama a atenção pelo excesso de rigor e paranoia. É verdade que o país saiu da pobreza do Terceiro Mundo para o status de país desenvolvido em apenas uma geração, e muito disso se deve ao foco obsessivo na educação. Mas as críticas dos próprios coreanos são praticamente unânimes: o pêndulo exagerou para o outro lado, e as crianças não têm mais vida fora do ensino, pois tudo que importa para definir o futuro é conseguir entrar numa das três prestigiosas universidades existentes, o que ocorre com base em um único teste.

A Coreia, portanto, tornou-se como uma corrida de hamsters, com alunos dormindo em sala de aula e depois estudando até de madrugada, gastando a parca poupança dos pais para aulas particulares e criando até mesmo algo excêntrico como professores que são como estrelas do rock, tanto em termos de fama como de ganhos. A meritocracia, segundo a autora, foi levada ao extremo.

Mas se ela fosse obrigada a escolher entre esse modelo, mesmo com seus exageros, e o americano, em que os pais se tornaram “cheerleaders”, sempre incentivando seus filhos em vez de cobrar resultado efetivo no aprendizado, ela diz que ficaria com o modelo coreano, no qual o pai atua mais como uma espécie de técnico. O que o caso coreano mostrava é que o rigor costuma produzir bons resultados, e que é possível mudar em tempo relativamente curto.

Não há, na Coreia, a crença de que a boa educação cai do céu, ou que é possível “deixar a coisa fluir” que depois tudo se ajeita. Não: os coreanos acreditam no trabalho duro, no esforço pesado, e nesse aspecto os americanos – e nem é preciso falar, os brasileiros – têm muito a aprender com eles. Se você realmente estudar, o resultado virá.

Mas é o caso da Finlândia que mais atraiu a autora, por conseguir mesclar a cobrança séria com uma qualidade de vida melhor para os alunos. O principal fator, segundo Ripley, é a valorização dos professores, o respeito que eles possuem no país, análogo ao de um médico americano. Naturalmente, esse respeito não é imerecido, bastando ser um professor. O próprio professor precisa passar por um treinamento puxado, sempre buscando mais qualificação.

O ensino terá uma qualidade tão boa quanto a dos professores, o que parece óbvio. Não adianta investir em prédios novos, informática, equipamentos modernos, se os professores forem ruins. A Finlândia deposita uma importância enorme nos professores, e forma uma elite deles em processos rigorosos de seleção e treinamento. Nada parecido com o que vemos no Brasil, com “professores” péssimos e muitas vezes incapazes de ensinar algo de verdade, preferindo, em vez disso, doutrinar as pobres crianças com bobagem marxista.

Essa transição na Finlândia foi curiosa, pois contou, inicialmente, com uma ampla centralização do processo. Nos anos 1970, o governo obrigava que os professores mantivessem diários do que ensinavam aos alunos a cada hora, inspetores nacionais faziam visitas regulares para verificar se os professores estavam cumprindo o rigoroso currículo, e escolas menores e piores foram fechadas.

Com o tempo, e após o país formar uma elite de bons professores, o governo começou a relaxar na fiscalização, concedeu maior autonomia aos professores, os livros utilizados passaram e ser escolhidos pelos próprios professores em âmbito local. Não era mais necessário ficar em cima, pois os professores existentes eram bem treinados. A lição finlandesa era clara para a autora: se um país quer falar sério sobre educação, então precisa começar pelo começo, valorizando e treinando os melhores professores.

Quando Amanda compara a realidade desses países com a americana, o que mais lhe chama a atenção é o fato de que o ensino nos Estados Unidos deixou de ser rigoroso, os alunos não são tão cobrados. A matemática, por exemplo, é tida como mais fácil nos Estados Unidos. O que se espera dos estudantes é menos do que eles poderiam dar, se ao menos as expectativas fossem maiores. O foco obsessivo nos esportes, segundo ela, representa uma distração perigosa, e mostra o que os americanos estão realmente priorizando.

Os pais americanos foram bombardeados durante os anos 1980 e 1990 com afirmações de que é fundamental proteger a “autoestima” das crianças, e por isso blindá-las da competição. Houve exageros para o lado politicamente correto, cujo ápice foi bem retratado num filme em que os pais não podem vibrar com a vitória do time dos filhos para não ofenderem os outros, e todo jogo terminava empatado.

A participação dos pais americanos é até razoável, mas fora de foco, segundo a autora. Eles fazem cupcakes, atuam como voluntários nas festas ou nos times da escola, agem como fãs de seus filhos, mas não cobram resultados objetivos com mais rigor nos testes. Os pais “técnicos” coreanos dedicavam mais tempo dentro de casa, cobrando deveres, lendo para os filhos menores, estimulando os filhos a sempre se esforçar mais. Elogios constantes e falsos podem ter um efeito tóxico, ao contrário de elogios mais raros, porém verdadeiros.

O caso polonês entrou na análise por conta de sua incrível velocidade: a Polônia era o patinho feito da Europa, e em poucos anos despontou como um dos países líderes no PISA, a despeito da pobreza bem maior. Tal mudança nesta magnitude e em curto espaço de tempo alimenta a esperança de que é possível, sim, mudar, mesmo para um país mais pobre. Não houve milagre, porém: o país resolveu colocar a educação como uma verdadeira prioridade, e cobrou com rigor os resultados dos professores.

Em suma, os países acompanhados pela autora e que despontam no ranking internacional de educação dão bastante importância ao setor de ensino e aos seus professores, cobram com rigor por resultados, adotam um sistema de meritocracia, reconhecendo que é impossível educar todos de forma igualitária, pois educar é, por excelência, criar elites de seres pensantes, ainda que todos devam ter boas oportunidades para se destacar, independentemente da classe social ou da “raça”.

As escolas existem para ajudar os alunos a aprender como pensar por conta própria, e também a falhar, pois no mundo real é inevitável se deparar com o fracasso. As boas escolas não escamoteiam essa realidade, não aprovam automaticamente qualquer um, não repetem que eles são brilhantes quando tiram, na verdade, péssimas notas. Não são, enfim, voltadas para alimentar a “autoestima” de perdedores, mas sim para ajudar a criar os legítimos vencedores, aqueles que conseguem, depois, pensar fora do quadrado, resolver questões complexas, adotar pensamento crítico e independente.

Alguém acha que isso é compatível com o método Paulo Freire e com os sindicatos de professores brasileiros, tomados pelos partidos comunistas?
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