Por Gabriel Afonso Marchesi Lopes*
Na 10ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) que, entre outros objetivos, busca fortalecer o ensino de matemática e despertar nos alunos o gosto pela matemática e pela ciência em geral, o Rio Grande do Sul obteve o primeiro lugar e segundo lugar no nível II e primeiro lugar no nível III. De um modo geral, o estado teve 36 medalhas de ouro, 87 medalhas de prata e 211 medalhas de bronze.
O saber matemático é fundamental para a progressiva evolução científica e tecnológica da Nação, sendo indispensável para o desenvolvimento pessoal, profissional e econômico das pessoas.
Segundo o Conde Bertrand Russell, um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos que viveram no século XX: "A matemática, vista corretamente, possui não apenas verdade, mas também suprema beleza - uma beleza fria e austera, como a da escultura".
Infelizmente, ainda que hajam importantes iniciativas como a OBMEP, o ensino matemático no Brasil é bastante negligenciado. Conforme a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o país ocupa o 38° lugar entre os 44 países avaliados pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que testa a habilidade de estudantes em resolver problemas de raciocínio lógico.
O resultado do exame mostrou que apenas 2% dos alunos brasileiros conseguiram resolver problemas de matemática mais complexos.
O fato é que a maioria dos brasileiros não domina habilidades matemáticas nem mesmo para as tarefas cotidianas, só conseguem ler preços, ver a hora, anotar números de telefone e verificar calendários, mas não são capazes, por exemplo, de ler gráficos publicados na mídia e de resolver problemas que exigem mais de um passo e cálculo proporcional.
O ensino brasileiro deve trabalhar com mais consistência na educação matemática, pois as pessoas precisam de condições para serem mais críticas em relação as informações que recebem. O pensamento matemático é tão necessário para o exercício eficiente da cidadania como ler e escrever, o que torna o analfabetismo numérico um problema gravíssimo.
Este é um problema de país e revertê-lo exige a diversificação do itinerário dos estudantes, dando maior significação aos conteúdos estudados através de uma uniformização entre a teoria e a prática, isto é, através de uma articulação entre o que é aprendido na escola e o que a sociedade realmente exige, possibilitando que o cidadão possa construir soluções, através de seus conhecimentos matemáticos, para problemas dentro de situações do cotidiano.
A sociedade atual exige uma postura holística que explore as situações problemas através de uma linguagem capaz de traduzir a realidade. Capacidades de análise e abstração devem ser valorizadas para além daquelas de simples memorização de fórmulas, de maneira que se estimule o questionamento do problema. Não pode haver um descompasso entre o mundo moderno e os currículos de matemática.
Enfim, a matemática está presente em toda a sociedade, sendo fundamental para o exercício de todas as profissões e para o exercício da própria cidadania. Deste modo, as mentes precisam ser estimuladas através de uma ponte entre o conhecimento teórico e a prática, de forma que se desperte o interesse pela matemática em todo o país e esta torne as pessoas mais críticas e conscientes, aptas à tomarem melhores decisões para si e para a população como um todo, pois o conhecimento é fundamental para a existência e progresso da Nação.
*GABRIEL AFONSO MARCHESI LOPES é formado em Ciências Atuariais (UFRGS/2007) e em Estatística (UFRGS/2013), com Pós-Graduação em Perícia e Auditoria pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Contabilidade da UFRGS. Atuou como Docente em Probabilidade e Estatística na UFRGS e como Monitor Acadêmico em diversas disciplinas do Departamento de Estatística e do Departamento de Matemática Pura e Aplicada da UFRGS.