terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A importância da Matemática para a cidadania e para o progresso nacional

Por Gabriel Afonso Marchesi Lopes*

Na 10ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) que, entre outros objetivos, busca fortalecer o ensino de matemática e despertar nos alunos o gosto pela matemática e pela ciência em geral, o Rio Grande do Sul obteve o primeiro lugar e segundo lugar no nível II e primeiro lugar no nível III. De um modo geral, o estado teve 36 medalhas de ouro, 87 medalhas de prata e 211 medalhas de bronze.

O saber matemático é fundamental para a progressiva evolução científica e tecnológica da Nação, sendo indispensável para o desenvolvimento pessoal, profissional e econômico das pessoas.

Segundo o Conde Bertrand Russell, um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos que viveram no século XX: "A matemática, vista corretamente, possui não apenas verdade, mas também suprema beleza - uma beleza fria e austera, como a da escultura".

Infelizmente, ainda que hajam importantes iniciativas como a OBMEP, o ensino matemático no Brasil é bastante negligenciado. Conforme a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o país ocupa o 38° lugar entre os 44 países avaliados pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que testa a habilidade de estudantes em resolver problemas de raciocínio lógico.

O resultado do exame mostrou que apenas 2% dos alunos brasileiros conseguiram resolver problemas de matemática mais complexos.

O fato é que a maioria dos brasileiros não domina habilidades matemáticas nem mesmo para as tarefas cotidianas, só conseguem ler preços, ver a hora, anotar números de telefone e verificar calendários, mas não são capazes, por exemplo, de ler gráficos publicados na mídia e de resolver problemas que exigem mais de um passo e cálculo proporcional.

O ensino brasileiro deve trabalhar com mais consistência na educação matemática, pois as pessoas precisam de condições para serem mais críticas em relação as informações que recebem. O pensamento matemático é tão necessário para o exercício eficiente da cidadania como ler e escrever, o que torna o analfabetismo numérico um problema gravíssimo.

Este é um problema de país e revertê-lo exige a diversificação do itinerário dos estudantes, dando maior significação aos conteúdos estudados através de uma uniformização entre a teoria e a prática, isto é, através de uma articulação entre o que é aprendido na escola e o que a sociedade realmente exige, possibilitando que o cidadão possa construir soluções, através de seus conhecimentos matemáticos, para problemas dentro de situações do cotidiano.

A sociedade atual exige uma postura holística que explore as situações problemas através de uma linguagem capaz de traduzir a realidade. Capacidades de análise e abstração devem ser valorizadas para além daquelas de simples memorização de fórmulas, de maneira que se estimule o questionamento do problema. Não pode haver um descompasso entre o mundo moderno e os currículos de matemática.

Enfim, a matemática está presente em toda a sociedade, sendo fundamental para o exercício de todas as profissões e para o exercício da própria cidadania. Deste modo, as mentes precisam ser estimuladas através de uma ponte entre o conhecimento teórico e a prática, de forma que se desperte o interesse pela matemática em todo o país e esta torne as pessoas mais críticas e conscientes, aptas à tomarem melhores decisões para si e para a população como um todo, pois o conhecimento é fundamental para a existência e progresso da Nação.


*GABRIEL AFONSO MARCHESI LOPES é formado em Ciências Atuariais (UFRGS/2007) e em Estatística (UFRGS/2013), com Pós-Graduação em Perícia e Auditoria pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Contabilidade da UFRGS. Atuou como Docente em Probabilidade e Estatística na UFRGS e como Monitor Acadêmico em diversas disciplinas do Departamento de Estatística e do Departamento de Matemática Pura e Aplicada da UFRGS.

Um comentário:

  1. Sou professor de Filosofia (e de Sociologia... e, em breve, de Dança). . Por "Matemática" eu penso que muitas pessoas tem intuições muito diferentes. Há uma Matemática de cálculos numéricos precisos que tem relativamente pouco a ver com o que eu tendo a ver como Matemática. Acredito que grande parte da aversão à Matemática de muitos brasileiros decorre da dificuldade de lidar com definições precisas, abstratas e não intuitivas. Gente boa em soma, subtração, divisão e multiplicação pode não ter facilidade com a velha modelagem de probleminhas simples em que tais operações possam ajudar a resolver um problema e, aí, essa dificuldade se repete seja para calcular quantas horas tantas pessoas levam para levantar um muro ou conferir envelopes etc (alunos bons se focam em complexidades que não foram consideradas e que não saberiam resolver, como o cansaço), seja para calcular uma área com uma sombra, seja para o tipo de problema e recursos convenientes que for. Não é raro o professor cobrar o uso de um recurso pouco adequado para o problema que formula e se irritar com o aluno que se "rebela" na verdade porque não lhe foi apresentado um horizonte que justificasse o treino no recurso focado, hehe... - que por vezes simplesmente não se justifica, mesmo.

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