sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Bilionários não existem

Por Régis Antônio Coimbra*

Sim, há bilionários, eu só precisava de um título curto e de impacto. O problema é que eles não têm bens que poderiam ou deveriam ser meus ou teus; eles tem poder que eu e tu concedemos a eles. São, nesse sentido, políticos cujo poder é definido por meio não do voto, mas das escolhas de consumo.

Se há exploração, ela decorre de acertos estatais que impedem essas escolhas. Nesse sentido, há um novo absolutismo, calcado na união do poder de algumas empresas (automobilística, por exemplo) com o estado. O resto são escolhas... estúpidas, algumas, mas escolhas tão livres quanto podem ser as escolhas de pessoas vulgares (para não dizer burras).

Relatórios da Oxfam são mistificações entre veladas e francamente incompetentes. Ou pior: competentes junto ao público a que se destinam, de pessoas "vulgares", ainda que espertinhas, algumas. A própria noção de desigualdade é um tanto misteriosa, embora o termo seja aparentemente autoexplicativo.

De que desigualdade a Oxfam está falando? Qual desigualdade é relevante? Pouco importa se é mais ou menos assim, porque a desigualdade radical não está na ponta dos bilionários, mas dos miseráveis que, pior do que explorados, estão excluídos - não servem nem para ser explorados.

Os bilionários não consomem especialmente mais do que a classe alta. Isso é, o cara com poucos milhões ou o cara com muitos bilhões não tem uma vida especialmente diferente no aspecto do consumo, mas na questão do poder. Eles não têm casas, carros etc que poderiam ser muito melhor distribuídos Se tudo o que eles possuem fosse distribuído, isso provavelmente diminuiria radicalmente o valor... até porque ninguém mais poderia comprar e isso paradoxalmente levaria a uma radical deflação dos preços em questão.

Experimento mental: uma casa de 10 milhões de dólares americanos valeria quanto se fosse para ser dividida por quarenta famílias dessas que moram em imóveis de um milhão de reais? E se for por 80 famílias dessas que moram em imóveis de 500 mil reais? Penso que o valor de uma tal casa não poderia se sustentar nesse contexto e, tanto pior, rapidamente seria fisicamente, como se houvessem abandonado o imóvel. Nesse sentido, a concentração gera grande parte do valor que supostamente usurpa na concepção de alguns.

McCain não sabia quantas casas tinha. Pensou que fossem umas quatro, depois concluiu, com assessores, que eram oito (pelas quais pagava tributos). E o cara sequer é bilionário, é um mero milionário, em grande medida por conta da fortuna da esposa. Pela perspectiva da Oxfam, um bilionário endividado pode ser mais pobre que McCain, que eu ou do tal camponês indiano sem dívidas (até por não ter crédito)... o que é uma análise absurda.

Por outro lado, o tal graduado de Harvard, endividado, de fato tem apenas a força de seu trabalho, diferenciado em todo caso. Dizer que ele é pobre é forçar a barra para dizer que ele não é um capitetalista (por mais arrivista e mercenário que seja), mas um trabalhador (fundindo aqui o trabalhador já não mais proletário com o pequeno burguês das análises marxistas). Ele é pobre porque não tem patrimônio positivo.

Fico imaginando a situação do herdeiro de classe média que renuncia à herança cuja resultante (somando dívidas e bens) é zero ou menor do que zero e do herdeiro de milionário ou de bilionário semelhante. As situações são completamente diferentes porque o patrimônio de "pobre" é principalmente de uso, salvo se for um mercadinho... Já o patrimônio de rico é gerador de renda, e essa é a distinção entre a "classe possuinte" (Marx se refere assim aos burgueses, por vezes) e a dos "trabalhadores".

Mas a fronteira entre os possuintes e os trabalhadores não é tão clara quanto pode parecer. O tal formado em Harvard tem um patrimônio que inclusive pode ser com alguma precisão estimado por um banco, ao lhe conceder um empréstimo. Como uma empresa, ele pode ser avaliado pelo seu potencial de gerar riqueza. Essa cotação é variável, aliás: ao se graduar tem um tamanho; com algum sucesso profissional pode aumentar e muito; com um fracasso pode diminuir.

E de modo muito diverso, um assalariado que contribui para um plano de previdência privado (calcado em capitalização) ou fechado é um tipo de capitalista. O sujeito pode se considerar endividado mas é um poupador ou mesmo investidor (indireto e, pior, sem nem o saber). Uma situação ambígua é a do "contribuinte" (forçado) da previdência estatal geral, que é um credor do estado. Ele também é um poupador, embora o patrimônio do estado possa ser, também, negativo.

Aliás, por essa falácia da metodologia da Oxfam estados nacionais riquíssimos, por um cálculo obviamente mal feito, também são pobres ou devedores. E, daí, volto à imagem: supondo que se tratasse de um reino absolutista, o herdeiro recusaria a herança por ser "negativa"? É claro que se teria de calcular o patrimônio físico do estado e, nisso, o tanto de potenciar de gerar renda... incluindo ironicamente, o povo como parte do patrimônio - os tais recursos humanos, mas num sentido patrimonial forte que torna os súditos literalmente propriedade, o que ironicamente parece ser o entendimento de estados socialistas, que impedem ou tentam impedir cidadãos "valiosos" de os abandonar, notadamente depois de todo o investimento feito neles pelo estado.

Bilionários, então, são como nobres que não tem mais terras nem mesmo bens de produção. O que bilionários tem são as preferências consumidores, preferências duramente disputadas a cada dia. E os consumidores mais valiosos não são outros bilionários, que consomem relativamente pouco (claro que há um mercado específico para isso, mas é irrelevante em comparação com a quantidade de riqueza do mundo). Os consumidores mais valiosos estão no povão, nos Homer Simpson da vida.


*RÉGIS ANTÔNIO COIMBRA é Filósofo e Advogado pela UFRGS. Especialista em Direito e Economia, e Acadêmico da Licenciatura em Dança. Foi Professor na UFRGS no Departamento de Direito Privado e Processo Civil, ministrando aulas na disciplina de Instituições de Direito e, atualmente, é Professor no Colégio Tiradentes da Brigada Militar, ministrando aulas de sociologia. É 1º Vice-Presidente do Movimento Estudantil Liberdade.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Análise Política das Eleições de 2015 para o DCE da UFRGS

Por Gabriel Afonso Marchesi Lopes*

Quem é mais louco, o louco ou quem o segue?
Ocorreram nos dias 24, 25 e 26 de novembro as eleições para o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (DCE/UFRGS). Com uma participação baixíssima, representada pelo quórum de apenas 15,69% dos estudantes, estas eleições mostram, sobretudo, o afastamento dos estudantes de sua entidade máxima representativa, grande parte devido ao distanciamento do DCE dos reais interesses dos estudantes e, também, em razão da baixa qualificação dos candidatos, que neste ano se resumiram basicamente à politiqueiros e “estudantes profissionais”, que são sabidamente repudiados pela maioria do estudantado.

O grupo vencedor foi aquele representado pela Chapa 5 – “Lado a lado somos muito mais”, que era composto principalmente pelos integrantes da atual gestão do DCE da UFRGS, que possui estreitos laços com o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e dentro da universidade se articula através do coletivo Juntos. Os votos, todavia, se mantiveram dentro da margem dos anos anteriores, contabilizando 1705 votantes e reforçando a existência de um público fiel desta chapa. Assim, quem quer que deseje superar este grupo já deve traçar suas estratégias visando angariar mais votos que estes representados por essa massa fixa, análise que faltou para o segundo colocado no pleito.

Na outra ponta, representando os grupos ideologicamente alinhados com a direita e com os liberais da UFRGS, tivemos a Chapa 4 – Novo DCE, que incorreu em erros crassos e, por isso, teve uma das mais baixas votações da história da direita na UFRGS, obtendo meros 1405 votos. Para começar, a chapa foi presidida por um indivíduo pouco expressivo, sem carisma e mal articulado, escolhido mais por critérios políticos, a fim de agradar o partido que estava financiando a chapa, do que por critérios estratégicos. Ainda, também contou com uma assessora de um deputado como Vice-Presidente e, pasme-se, com um vereador na nominata. Basicamente, uma fórmula pronta para se perder as eleições.

A votação para a diretoria executiva do DCE da UFRGS é de participação facultativa, o que faz com que os estudantes somente participem se sentirem-se estimulados a participar. Nos grupos de esquerda, esta motivação é ideológica. O fervor doutrinário faz com que os alunos se dirijam para as urnas com o intuito de manter na direção da entidade aquilo que corresponde à sua visão de mundo, mesmo que esta não tenha nenhum tipo de relação com a Academia. Contudo, quando se trata de estudantes com uma visão liberal-conservadora, a ponderação em relação à participação se dá sob outro foco, qual seja: o quão determinado grupo pode ser útil, em termos práticos, para o bem estar do votante dentro da sala de aula. Pesa nesta ponderação uma medida de relatividade que avalia o quanto a gestão pode colaborar com o aluno em detrimento dos próprios interesses pessoais dos gestores. Desta forma, por mais que uma chapa tenha boas propostas, se ela passar uma impressão de que pode trabalha mais nos interesses pessoais dos gestores do que na efetiva implementação do proposto, o aluno com visão liberal-conservadora deixará de votar. Foi exatamente o esquecimento deste fator o pecado capital que aniquilou a Chapa 4.

Em primeiro lugar, o aluno escolhido para presidir a Chapa 4 foi um indivíduo que não passava confiança aos estudantes. Bastava poucos minutos de conversa para se ter a impressão de que ele era uma pessoa extremamente maleável e manipulável, isto é, alguém que não teria pulso firme suficiente para defender os interesses dos estudantes, sobretudo quando estes se chocassem com os interesses do partido que capitaneava a Chapa 4, no que entramos na questão do segundo ponto fraco da Chapa 4, que foi justamente a vinculação aos partidos políticos. Ao se colocar na nominata uma assessora de um deputado e um vereador, se passa a impressão de que a chapa buscará primeiramente atender as demandas e os interesses destes políticos, para só depois, se sobrar tempo, atender as demandas dos estudantes. Isto é um fator altamente desmotivador para o votante, pois passa a impressão de que, ao se dirigir às urnas, ele não estará votando em alguém que irá defender seus interesses, mas sim em indivíduos que irão defender interesses estranhos, externos, enfim, partidários.

O fato é que a articulação da Chapa 4 foi feita por um indivíduo que assumidamente possui problemas mentais graves e, muito embora não tenha participado da nominata, foi quem de fato controlou toda a campanha e conseguiu somente obter o maior desastre eleitoral para a direita da UFRGS nos últimos anos. Com exceção de 2010, que aliás foi quando este indivíduo começou a participar mais ativamente do Movimento Estudantil da UFRGS, nunca uma chapa ideologicamente alinhada com a visão liberal-conservadora teve um desempenho tão ruim. Para além das estratégias furadas, outro fator preponderante para o enfraquecimento deste grupo é justamente os rachas internos, oriundos de picuinhas que possuem sempre um denominador comum, que é este indivíduo. Foi assim no racha de 2010, quando foram lançadas duas chapas DCE Livre, foi assim em 2011, quando este indivíduo rachou a direita em dois grupos, que juntos fizeram mais votos que a esquerda, mas que separados perderam as eleições, foi assim em 2012, quando a disputa de egos fez com que seus seguidores sequer conseguissem lançar uma chapa, foi assim em 2014, quando este indivíduo causou tantos rachas e brigas dentro da gestão “DCE de Verdade”, que esta sequer conseguiu se reeleger, e foi assim neste ano, quando diversos estudantes simplesmente abandonaram o grupo alinhado com a direita, por não aturarem mais este louco, no que por vezes é fundamental questionar: quem é mais louco, o próprio louco ou quem o segue?

Enfim, teremos mais um ano com a esquerda à frente do DCE da UFRGS e, infelizmente, atingimos um patamar, onde existem tantos rachas e tantas brigas entre os indivíduos de visão liberal-conservadora, que inexiste perspectiva de curto (ou até de longo) prazo para superar tamanho dano. As escolhas ruins, mais do que o empenho da esquerda, foram o que causou a derrota da direita e dos liberais nestas eleições.


*GABRIEL AFONSO MARCHESI LOPES é Cientista Atuarial pela Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS e Estatístico pelo Instituto de Matemática da UFRGS. Possui Pós-Graduação em Perícia e Auditoria pelo NECON/UFRGS. Foi Conselheiro no Colegiado do Departamento de Estatística, na Comissão de Graduação em Estatística e no Conselho do Instituto de Matemática da UFRGS. Foi Professor junto ao Departamento de Estatística da UFRGS nas disciplinas de Estatística Geral e de Probabilidade e Estatística. É fundador do Movimento Estudantil Liberdade e atualmente preside o grupo DCE Livre – Movimento Estudantil Liberdade.



quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Nota de pesar pelo falecimento do Cel. Ustra

Faleceu hoje, aos 83 anos, o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um lutador da liberdade. Sua vida foi marcada pela dedicação e trabalho em prol dos mais altos valores democráticos e pela mais completa resignação patriótica. Foi um humilde servo de nossa Nação, agindo sempre de forma ética e moral, com foco na ajuda ao próximo. O Coronel Ustra colocava a vida e o bem estar de seus semelhantes acima das próprias necessidades. Era um Anjo de Farda.

Suas ações salvaram milhares de vidas. Foi um pacificador que muitas vezes se colocou frente a frente com o perigo para garantir a segurança das pessoas. Arriscava a própria vida para que indivíduos, a maioria que ele sequer conhecia, pudessem dormir tranquilos em suas casas e transitar livremente pelas ruas. Um herói sem vaidade, que dispensava honrarias e se satisfazia apenas com o sorriso daqueles a quem protegia.

Ao fim da vida, sofreu as mais escabrosas perseguições por parte daqueles que outrora combatera. Teve a intimidade e a privacidade devassadas. A extrema-esquerda chegou ao poder em nosso país sedenta por revanchismo. Criou as ditas “Comissões da Verdade”, que de verdade não tinham nada, para humilhar e maltratar cidadãos que, como o Coronel Ustra, impediram que assaltantes de banco, assassinos, estupradores e terroristas transformassem nosso país naquilo que eles mesmos chamavam de “Ditadura do Proletariado”.

Indivíduos que no passado colocavam bombas em aeroportos, matavam agricultores nos chamados “justiçamentos”, sequestravam funcionários públicos, entre outras atrocidades agora queriam reescrever a história, distorcendo fatos e contando mentiras. Se aproveitavam do Coronel Ustra ter mais de 80 anos e não possuir a energia que possuía na juventude para torturá-lo. Para quem estava acostumado a espalhar o terror, maltratar velhinhos não era nada demais. O já idoso Ustra resistiu o quanto pode e hoje foi embora.

Deixamos aqui nosso pesar pela partida deste Grande Coronel e Patriota. Vá em paz Comandante Ustra e esteja certo que cumpriu sua missão na terra, pois muitos de nós não estaríamos vivos hoje se não fosse o seu trabalho e o fato de ter dado o seu sangue para que o sangue de muitos brasileiros não fosse derramado pelos agentes terroristas e sua “Ditadura do Proletariado” que tanto mal fez em outras partes do mundo.

Movimento Estudantil Liberdade

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

12 Mitos da educação brasileira

Professor ganha pouco, universidade pública deve ser gratuita... O economista Gustavo Ioschpe desconstrói versões predominantes sobre a realidade e os desafios do ensino nacional. 

MITO 1 - O Brasil investe pouco em educação
Se um médico prescreve um remédio para uma doença e ele não surte efeito, a primeira opção é aumentar a dosagem. Se o problema persistir, provavelmente o médico tentará outro medicamento. Quando o assunto é educação, a lógica segue o caminho oposto: a solução para todos os problemas é sempre aumentar a dosagem do que se considera o único remédio, ou seja, o dinheiro. Os defensores desse tratamento desconsideram o fato de que repasses de verba cada vez maiores já foram anunciados por programas como Fundef e Fundeb sem melhorar a qualidade da educação. Apesar disso, o Plano Nacional de Educação, recém-sancionado pela presidente Dilma Rousseff, prevê que, até 2024, 10% do PIB brasileiro deve ir para o setor. Segundo a Unesco, países como Finlândia, China, Irlanda e Coreia do Sul, que apresentam os melhores índices educacionais do mundo, gastam até 5,7% do PIB com educação. Em contraponto, nações como Quênia, Namíbia, Armênia e Mongólia despendem entre 7% e 12,9% do PIB no setor: mesmo assim, não conseguiram solucionar o problema da baixa qualidade do ensino.

MITO 2 - Os professores são mal remunerados
No Brasil, o salário da maioria dos profissionais, como médicos, engenheiros, artistas e professores, é em média 3,5 vezes inferior ao pago a profissionais das mesmas categorias nos Estados Unidos. A diferença salarial é explicada pelo PIB per capita de cada país. O professor ganha pouco por ser brasileiro, não por ser professor. O argumento comum, porém, é de que se o Brasil quiser atingir o patamar educacional de países desenvolvidos, como os próprios Estados Unidos, deve pagar o mesmo a seus docentes. Isso desconsidera o fato de que quase 80% do gasto com educação aqui são destinados a pagar salários de professores e funcionários. Se pagarmos aos docentes brasileiros, em termos nominais, o mesmo que os americanos recebem, eles seriam a única categoria a atingir esse patamar salarial no Brasil. Os demais profissionais, contudo, continuariam a ganhar 3,5 vezes menos.

MITO 3 - Ganhando mais, os professores vão ensinar mais
Não há, na literatura empírica nacional e internacional, provas de que salários mais altos influenciam a melhora na qualidade do ensino. Uma simples constatação disso é que os sucessivos aumentos no piso salarial dos docentes brasileiros até hoje não tiveram reflexos nos índices educacionais e também não solucionaram os problemas das greves, que continuam a acontecer todos os anos. O sistema educacional é perverso: se o professor faz mal o seu trabalho e ainda assim ganha mais, por que lutar para fazer um trabalho melhor que não trará mais ganhos?

MITO 4 - As salas de aula têm alunos demais
Este é um dos mitos comumente relacionados à baixa qualidade do ensino e à necessidade de aumento salarial dos docentes. A relação, porém, não resiste à apuração de pesquisas empíricas. Elas mostram que, em salas com menos de 20 alunos, a turma aprende o mesmo que em uma sala mais cheia. O único fator que faz diferença real é o professor e sua capacidade de gerir uma sala de aula e transmitir conhecimentos para um grupo.

MITO 5 - Escola em tempo integral vai melhorar os índices educacionais
Há evidências de que mais horas-aula melhoram o desempenho acadêmico. O problema é que a carga horária brasileira, que já não é alta, raramente é cumprida, e a maioria dos programas de ensino integral praticados no Brasil oferecem atividades não-acadêmicas, como música e esporte, no contraturno. Nesse modelo, o ensino em tempo integral é um desperdício. A primeira prioridade deveria ser usar o tempo de aula de modo eficiente, pois o Brasil é um dos países que mais desperdiça tempo com atrasos de professores e alunos, anúncios, chamada etc. Quando essa carga horária estiver bem ocupada, e quando os programas no contraturno forem de português, matemática e outras disciplinas, o desempenho dos alunos vai melhorar. Nesse caso, eu seria totalmente favorável à iniciativa.

MITO 6 - A tecnologia vai resolver o atraso escolar
Praticamente toda a pesquisa sobre o assunto, não apenas no Brasil como no exterior, mostra que não há relação entre a presença de computadores na escola e aprendizado. Ainda assim, o Ministério da Educação decidiu em 2012 dar tablets aos professores, um custo de 150 milhões de reais. O fracasso atual das tecnologias em sala de aula não quer dizer que elas não possam dar resultados no futuro. A utilização de softwares específicos para aprendizado tem mostrado resultados positivos, principalmente em matemática. Mas o melhor software educacional disponível hoje é, disparado, o cérebro de um bom professor.

MITO 7 - A escola tem que formar cidadãos críticos e conscientes
Esse argumento reflete a ideologização do ensino, presente em todas as escolas brasileiras. Pesquisas do Inep (órgão ligado ao MEC responsável por pesquisas educacionais) com professores mostram que nove em cada dez docentes concordam com a afirmação de que ‘o professor deve desenvolver a consciência social e política das novas gerações’. Menos da metade, no entanto, acredita que ‘o professor deve evitar toda forma de militância e compromisso ideológico em sala de aula’. Essa percepção, além de alterar o conteúdo a ser ensinado, afeta a forma como ele chega aos alunos: por isso, trabalhos em grupo passaram a se sobrepor a exercícios individuais, notas e provas passaram a ser vistas com maus olhos e recompensar o mérito acadêmico é equivalente a premiar uma competitividade nefasta. É impossível, porém, medir se essa filosofia está efetivamente criando cidadãos críticos e conscientes ou apenas se sobrepondo ao ensino dos conteúdos.

MITO 8 - Rankings educacionais não levam em consideração a realidade das escolas
É verdade que os rankings educacionais não consideram fatores socioecômicos. O que se esconde por trás desse mito, contudo, é a ideia de que por causa disso eles não podem ser considerados bons termômetros para a educação, como apontam os críticos das avaliações externas nacionais e internacionais. Os rankings estão certos em não considerar esses fatores, porque eles devem medir o conteúdo que está sendo ensinado em uma determinada etapa de ensino, independente da localidade da escola. Se eles considerassem o fator social, esse serviria apenas de muleta para justificar o fato de que em regiões mais pobres os alunos aprendem menos e não há nada a ser feito. Com os rankings isentos dessas peculiaridades, é possível saber onde está o problema e minimizar fatores externos ao ensino dos conteúdos com uma política educacional específica. Onde há déficit econômico, é preciso haver superávit educacional.

MITO 9 - Divulgar a nota do Ideb na porta das escolas estigmatizaria alunos
A divulgação das notas do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, que mede o fluxo escolar e o desempenho dos estudantes em avaliações nacionais) nas escolas é uma campanha que defendo há algum tempo. A medida já foi aplicada em Estados como Minas Gerais e Goiás e até o momento não foi constatado nenhum prejuízo psicológico aos alunos, nem nas escolas com as piores notas. Não há explicação lógica em pensar que uma criança seria humilhada por saber que estuda em uma instituição que não está oferecendo bom ensino. Pelo contrário: a divulgação dos dados educacionais deve servir para que as famílias cobrem melhorias e, ao mesmo tempo, para que as escolas tomem consciência de que precisam melhorar.

MITO 10 - Universidade pública deve ser gratuita
A cobrança de mensalidade para alunos ricos foi uma das primeiras bandeiras que defendi. Quando fui aprovado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde estudei apenas três semanas antes de ir para os Estados Unidos, cheguei a procurar a reitoria para que eu pudesse colaborar com a instituição de alguma forma, pagando mensalidade ou fazendo doações. Minha família pagou pelo ensino básico e não via razões para eu estudar gratuitamente no ensino superior. A universidade negou minha tentativa veementemente. A prática funciona perfeitamente em outras nações, como Austrália, Estados Unidos e Chile, que recentemente anunciou a gratuidade a todos os alunos. Será um retrocesso em um sistema educacional que colocou o país entre os melhores do mundo. No Brasil, é fato conhecido por todos que os aprovados em instituições públicas vêm de grupos econômicos mais favorecidos e a maioria esmagadora dos alunos mais pobres acaba em faculdades privadas de baixa qualidade. A cobrança não prejudicaria o sistema de ensino e traria subsídios para financiar os estudos de quem precisa.

MITO 11 - A sociedade está engajada na melhoria da educação
É socialmente aceitável ter um discurso que mostra preocupação com a educação, mas a maioria das pessoas não se importa realmente. Uma pesquisa do Inep com pais de alunos mostrou que, em uma escala de satisfação de 0 a 10, sendo zero muito insatisfeito e 10 muito satisfeito, a nota média dada pelos pais às escolas de seus filhos foi 8,6. Se as famílias brasileiras apontam esse nível de satisfação com o ensino público, muito dificilmente elas vão protestar por melhorias. É preciso ponderar, contudo, que esses dados não revelam falta de interesse por parte das famílias. Em muitos casos, os pais que não têm instrumentalização para medir a qualidade da escola, pois sequer terminaram o ensino básico. Para um pai, é muito difícil conviver com a ideia de que o filho está com problemas na escola e que ele não pode ajudar. Se ele sabe que tem um problema, mas não consegue apontá-lo, acaba se baseando em critérios mais palpáveis, como o recebimento de uniforme, transporte e outros fatores que não estão ligados diretamente ao aprendizado dos estudantes. Para reverter esse quadro, é preciso voltar a um passo anterior: mostrar a ele a realidade do sistema. O engajamento vem depois da conscientização do problema.

MITO 12 - O ensino brasileiro está melhorando na velocidade desejada
Governantes e até órgãos internacionais, como Unesco e OCDE, gostam de ressaltar o crescente esforço do Brasil para melhorar a educação no país. As melhorias, porém, são pífias se comparadas ao gastos no setor. O problema do acesso ao ensino pode ter sido praticamente sanado, mas a qualidade da oferta definitivamente não traduz o discurso feliz e eleitoreiro de muitos porta-vozes.

domingo, 12 de julho de 2015

Os garotos mais inteligentes do mundo: como Finlândia, Coreia e Polônia se destacam no PISA


Eis o mistério: por que alguns alunos aprendem tanto e outros tão pouco? No teste internacional do PISA, mede-se não apenas a capacidade de memorização (decoreba), mas também e principalmente a capacidade de raciocínio, e criatividade, de pensamento crítico. Por que alguns países se destacam nesses testes enquanto outros afundam na mediocridade?

Com essa questão em mente, Amanda Ripley foi atrás de três alunos americanos que foram estudar, respectivamente, na Finlândia, na Coreia do Sul e na Polônia. Ela queria compreender o que esses países faziam de diferente dos Estados Unidos para se destacarem no PISA. Além dos três que ela acompanhou de perto, mais de 200 alunos foram entrevistados. O resultado é o livro The Smartest Kids in the World: And How They Got That Way, que explora as principais diferenças entre os modelos de ensino de cada um desses países.

O foco da autora é entender o relativo declínio americano, que já liderou o ensino no mundo, mas hoje precisa conviver com mais de 20 países à frente nos testes internacionais. O que o PISA expôs, logo de cara, é que não adianta jogar mais recursos públicos na educação, se o modelo for equivocado. Não era o gasto por aluno ou em relação ao PIB que realmente fazia a diferença no resultado final, algo que deveria ser lembrado quando populistas celebram, no Brasil, o gasto de 10% do PIB no setor imposto por novas leis.

A importância da educação – da boa educação – no crescimento de longo prazo de uma nação é algo demonstrado por economistas com estudos estatísticos. A correlação com o PISA é enorme. O “detalhe” importante, porém, é qual educação, ou seja, se esses alunos estão realmente aprendendo coisas úteis e, acima de tudo, a pensar por conta própria, a raciocinar.

O caso coreano chama a atenção pelo excesso de rigor e paranoia. É verdade que o país saiu da pobreza do Terceiro Mundo para o status de país desenvolvido em apenas uma geração, e muito disso se deve ao foco obsessivo na educação. Mas as críticas dos próprios coreanos são praticamente unânimes: o pêndulo exagerou para o outro lado, e as crianças não têm mais vida fora do ensino, pois tudo que importa para definir o futuro é conseguir entrar numa das três prestigiosas universidades existentes, o que ocorre com base em um único teste.

A Coreia, portanto, tornou-se como uma corrida de hamsters, com alunos dormindo em sala de aula e depois estudando até de madrugada, gastando a parca poupança dos pais para aulas particulares e criando até mesmo algo excêntrico como professores que são como estrelas do rock, tanto em termos de fama como de ganhos. A meritocracia, segundo a autora, foi levada ao extremo.

Mas se ela fosse obrigada a escolher entre esse modelo, mesmo com seus exageros, e o americano, em que os pais se tornaram “cheerleaders”, sempre incentivando seus filhos em vez de cobrar resultado efetivo no aprendizado, ela diz que ficaria com o modelo coreano, no qual o pai atua mais como uma espécie de técnico. O que o caso coreano mostrava é que o rigor costuma produzir bons resultados, e que é possível mudar em tempo relativamente curto.

Não há, na Coreia, a crença de que a boa educação cai do céu, ou que é possível “deixar a coisa fluir” que depois tudo se ajeita. Não: os coreanos acreditam no trabalho duro, no esforço pesado, e nesse aspecto os americanos – e nem é preciso falar, os brasileiros – têm muito a aprender com eles. Se você realmente estudar, o resultado virá.

Mas é o caso da Finlândia que mais atraiu a autora, por conseguir mesclar a cobrança séria com uma qualidade de vida melhor para os alunos. O principal fator, segundo Ripley, é a valorização dos professores, o respeito que eles possuem no país, análogo ao de um médico americano. Naturalmente, esse respeito não é imerecido, bastando ser um professor. O próprio professor precisa passar por um treinamento puxado, sempre buscando mais qualificação.

O ensino terá uma qualidade tão boa quanto a dos professores, o que parece óbvio. Não adianta investir em prédios novos, informática, equipamentos modernos, se os professores forem ruins. A Finlândia deposita uma importância enorme nos professores, e forma uma elite deles em processos rigorosos de seleção e treinamento. Nada parecido com o que vemos no Brasil, com “professores” péssimos e muitas vezes incapazes de ensinar algo de verdade, preferindo, em vez disso, doutrinar as pobres crianças com bobagem marxista.

Essa transição na Finlândia foi curiosa, pois contou, inicialmente, com uma ampla centralização do processo. Nos anos 1970, o governo obrigava que os professores mantivessem diários do que ensinavam aos alunos a cada hora, inspetores nacionais faziam visitas regulares para verificar se os professores estavam cumprindo o rigoroso currículo, e escolas menores e piores foram fechadas.

Com o tempo, e após o país formar uma elite de bons professores, o governo começou a relaxar na fiscalização, concedeu maior autonomia aos professores, os livros utilizados passaram e ser escolhidos pelos próprios professores em âmbito local. Não era mais necessário ficar em cima, pois os professores existentes eram bem treinados. A lição finlandesa era clara para a autora: se um país quer falar sério sobre educação, então precisa começar pelo começo, valorizando e treinando os melhores professores.

Quando Amanda compara a realidade desses países com a americana, o que mais lhe chama a atenção é o fato de que o ensino nos Estados Unidos deixou de ser rigoroso, os alunos não são tão cobrados. A matemática, por exemplo, é tida como mais fácil nos Estados Unidos. O que se espera dos estudantes é menos do que eles poderiam dar, se ao menos as expectativas fossem maiores. O foco obsessivo nos esportes, segundo ela, representa uma distração perigosa, e mostra o que os americanos estão realmente priorizando.

Os pais americanos foram bombardeados durante os anos 1980 e 1990 com afirmações de que é fundamental proteger a “autoestima” das crianças, e por isso blindá-las da competição. Houve exageros para o lado politicamente correto, cujo ápice foi bem retratado num filme em que os pais não podem vibrar com a vitória do time dos filhos para não ofenderem os outros, e todo jogo terminava empatado.

A participação dos pais americanos é até razoável, mas fora de foco, segundo a autora. Eles fazem cupcakes, atuam como voluntários nas festas ou nos times da escola, agem como fãs de seus filhos, mas não cobram resultados objetivos com mais rigor nos testes. Os pais “técnicos” coreanos dedicavam mais tempo dentro de casa, cobrando deveres, lendo para os filhos menores, estimulando os filhos a sempre se esforçar mais. Elogios constantes e falsos podem ter um efeito tóxico, ao contrário de elogios mais raros, porém verdadeiros.

O caso polonês entrou na análise por conta de sua incrível velocidade: a Polônia era o patinho feito da Europa, e em poucos anos despontou como um dos países líderes no PISA, a despeito da pobreza bem maior. Tal mudança nesta magnitude e em curto espaço de tempo alimenta a esperança de que é possível, sim, mudar, mesmo para um país mais pobre. Não houve milagre, porém: o país resolveu colocar a educação como uma verdadeira prioridade, e cobrou com rigor os resultados dos professores.

Em suma, os países acompanhados pela autora e que despontam no ranking internacional de educação dão bastante importância ao setor de ensino e aos seus professores, cobram com rigor por resultados, adotam um sistema de meritocracia, reconhecendo que é impossível educar todos de forma igualitária, pois educar é, por excelência, criar elites de seres pensantes, ainda que todos devam ter boas oportunidades para se destacar, independentemente da classe social ou da “raça”.

As escolas existem para ajudar os alunos a aprender como pensar por conta própria, e também a falhar, pois no mundo real é inevitável se deparar com o fracasso. As boas escolas não escamoteiam essa realidade, não aprovam automaticamente qualquer um, não repetem que eles são brilhantes quando tiram, na verdade, péssimas notas. Não são, enfim, voltadas para alimentar a “autoestima” de perdedores, mas sim para ajudar a criar os legítimos vencedores, aqueles que conseguem, depois, pensar fora do quadrado, resolver questões complexas, adotar pensamento crítico e independente.

Alguém acha que isso é compatível com o método Paulo Freire e com os sindicatos de professores brasileiros, tomados pelos partidos comunistas?

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Viés ou foco?

Por Régis Antônio Coimbra*

Há uma pesquisa apontando que 87% dos estudantes da UFRGS são preconceituosos. A pesquisa merece críticas pela metodologia estatística. Para mim o problema é outro: dizer que a maioria das pessoas é preconceituosa é não dizer nada; é dizer que a maioria das pessoas é educada numa dada cultura que tem certos estereótipos. É importante definir o que é ser significativamente preconceituoso.

O pai que prefere que o filho não seja gay não é preconceituoso, é apenas brasileiro, tem um ideal de filho (comedor) e de filha (não puta) etc. Para o pessoal ultra politizado até que o próprio filho desmunheque o problema não é diferente do cara tosco que após se escabelar, querer levar no pastor ou no psicólogo para curar o filho, acaba se acostumando e defendendo o filho... com algum constrangimento (se possível, vai mentir para os amigos).

Isso é uma coisa. Outra coisa é o cara ser um ativista anti-gay. Isso nem o "casca-grossa", no mais das vezes, é.

Um detalhe engraçado: assim como o pessoal "limpinho" tem desconfiança com o pessoal hipponga, cabeludo, com as feministas peludas etc, os hippongas etc também têm preconceito com os mauricinhos, policiais etc. Isso significa apenas que pertencem a grupos ou "tribos" diferentes cuja identidade se estrutura em parte pela idealização dos semelhantes e desumanização dos diferentes. O engraçado é que o pessoal "humanista" critica os "de direita" como toscos, preconceituosos etc e não se dá conta de que o é, simetricamente...

Ressalvado isso, sim, gays, negros, mulheres, velhos, pobres enfrentam dificuldades especiais em nossa sociedade que tem como modelo o homem, branco, heterossexual, sarado, de classe média alta, jovem.

Por isso é ridículo um "orgulho hétero" ou "branco". Não é necessário, já estão no topo etc... os negros, mulheres, gays etc precisam em parte do ativismo seja para entenderem a própria condição, seja para conquistar espaço... Claro que, como trágica ironia da desvantagem de suas posições, ao fazer isso justo os mais desequilibrados (podemos em parte justificar que são desequilibrados por enfrentarem um estresse maior) é que se destacam e o feminismo acaba associado com mulheres gordas, autoritárias, peludas etc (até aí... tudo bem, digamos) com frases como "coito anal contra o capital" pintado no peito.


*RÉGIS ANTÔNIO COIMBRA é Filósofo e Advogado pela UFRGS. Especialista em Direito e Economia, e Acadêmico da Licenciatura em Dança. Foi Professor na UFRGS no Departamento de Direito Privado e Processo Civil, ministrando aulas na disciplina de Instituições de Direito e, atualmente, é Professor no Colégio Tiradentes da Brigada Militar, ministrando aulas de sociologia.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Desconstruindo a pseudociência: o charlatanismo na pesquisa sobre preconceito na UFRGS

Por Gabriel Afonso Marchesi Lopes*

É importante distinguir aquilo que é real daquilo
que é "vendido" como se real fosse, mas que nada
tem de realidade
Os resultados de uma pesquisa científica séria devem retratar a realidade da forma mais fidedigna possível, logo os mesmos não são passíveis de questionamento direto quanto à sua validade, uma vez que devem ser imparciais e objetivos de tal forma que não cabe aos resultados agradar ou desagradar uma ou outra opinião ou ideologia, mas sim estar de acordo com os fatos propriamente ditos, ainda que isto, por assim dizer, gere “choro e ranger de dentes”. Todavia, os resultados podem ser invalidados de maneira indireta, e isto ocorre quando os pressupostos para sua obtenção não são atendidos, sendo estes aqueles que dizem respeito à metodologia empregada e a base de dados analisada. Se foi empregada uma metodologia inadequada e/ou a base de dados for inconsistente, então os resultados do estudo não vão retratar a realidade, logo são inválidos do ponto de vista técnico.

No dia 18 de Maio, o jornal Zero Hora publicou uma matéria sobre um estudo, realizado pelo Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e publicado na revista Sexuality Research and Social Policy, que supostamente apontou que 87% dos alunos da Universidade tinham algum preconceito de gênero ou contra a diversidade sexual. O conteúdo desta matéria teve grande repercussão nacional, sobretudo por tratar de um tema sensível que é o preconceito e por apontar que a nata intelectual da sociedade, isto é, os estudantes da instituição que é avaliada pelo Ministério da Educação (MEC) como a melhor Universidade do Brasil são, em sua grande maioria, preconceituosos.

Por mais que este resultado afronte algumas visões e, inclusive, atinja a imagem de uma instituição de ensino centenária, não cabe, em um primeiro momento, questionar se estas conclusões são ou não são válidas, porém é importante analisar o processo através do qual se obteve tal resultado, a fim de avaliar se o mesmo teve o rigor científico que se espera em uma universidade de renome e está de acordo com os padrões internacionalmente aceitos. Assim, cabe a análise do procedimento de coleta de dados, do instrumento utilizado nesta coleta e dos controles utilizados para que a mesma se restrinja à população alvo.

Analisando o estudo que foi originalmente publicado em inglês sob o título “Prejudice Toward Gender and Sexual Diversity in a Brazilian Public University: Prevalence, Awareness, and the Effects of Education” é visível que esta pesquisa é metodologicamente falha, logo seus resultados não podem ser replicados para toda a Universidade. Explico: quando se trabalha com uma amostra, usa-se uma série de procedimentos estatísticos a fim de que seus resultados possuam determinadas características e, assim, possam ser utilizados para se falar algo (inferir) sobre toda a população. Quando este procedimento amostral é feito de forma inadequada, seus resultados podem possuir um viés que leva à interpretações errôneas sobre a população.

Um dos pressupostos mais importantes em amostragem é a aleatoriedade da amostra, que são os procedimentos onde cada possível amostra tem probabilidade conhecida, a priori, de ocorrer, se baseando em teoria de probabilidade e inferência estatística, de forma que se possa, utilizando propriedades matemáticas associadas ao plano amostral, buscar uma amostra representativa da população que permita a generalização de seus resultados dentro de limites aceitáveis de dúvida.

Ocorre que a pesquisa não utilizou nenhum procedimento probabilístico na seleção da amostra. Conforme consta no próprio estudo, o procedimento utilizado foi o seguinte: a Reitoria da Universidade enviou um e-mail para todos os estudantes com um questionário on-line e alguns deles responderam ao estudo, tendo suas respostas utilizadas na obtenção das conclusões do estudo. Assim, a ausência de metodologia estatística na seleção da amostra faz com que seus resultados sejam tendenciosos e impede que os mesmos possam ser utilizados para se fazer inferência a respeito de todos os alunos da instituição.

Então, do ponto de vista técnico acerca do procedimento de coleta de dados, considerando que os procedimentos metodológicos não foram adequados, temos que a análise realizada, por mais sofisticada que seja, não pode ter seus resultados considerados como idôneos, pois foram tendenciosos já na origem, no momento de coleta da amostra.

Ainda, em um estudo científico é importante analisar o instrumento utilizado na coleta dos dados, isto é, a forma utilizada para medir os elementos que subsidiarão as conclusões da pesquisa. Em se tratando de uma pesquisa de opinião é usual utilizar um questionário, sendo este exatamente o meio que foi empregado neste estudo. Um questionário pode ser elaborado de diferentes formas, neste caso utilizou-se algo que possuí a nomenclatura técnica de “Escala de Likert”, que é uma forma de medição psicométrica onde cada questão é representada por cinco gradações que quantificam a opinião do respondente em relação aquilo que lhe é perguntado indo de “discorda totalmente” até “concorda totalmente”.

A “Escala de Likert” possuí diversas críticas, porém o interesse aqui não é a discussão sobre qual método é melhor ou pior, mas sim se o método utilizado teve seus pressupostos cumpridos, não possuindo falhas do ponto de vista técnico. Em se tratando de um questionário que utiliza a “Escala de Likert”, a verificação de sua adequabilidade técnica se dá a partir do emprego de uma medida estatística cujo nome é coeficiente alfa de Cronbach, que estima a confiabilidade de um instrumento aplicado em uma pesquisa a partir da correlação entre as respostas em um questionário através da análise do perfil das respostas dadas pelos respondentes. Cada item, a priori, deve abordar uma única ideia de cada vez, isto é, os itens devem ser independentes. Se a resposta a determinado item se comporta de maneira parecida com a resposta de outro item, conclui-se que um explica o outro.

Dessa forma, cabe ao pesquisador avaliar o questionário com o emprego do coeficiente alfa de Cronbach, realizando aquilo que é chamado de purificação da escala, que consiste na eliminação de itens que estejam afetando a confiabilidade da medição em um determinado levantamento de dados. Todo esse conjunto de procedimentos envolvendo o instrumento de medida em uma pesquisa de opinião é chamado de validação do questionário. Não obstante, pode também o pesquisador utilizar um questionário elaborado em outra pesquisa, que já passou por todo o processo de validação e é aceito pela comunidade científica.

Contudo, no referido estudo, não há qualquer menção quanto ao processo de validação do questionário empregado e nem mesmo quanto à outras referências e usos do mesmo em outras pesquisas científicas da área. Este é o tipo de erro que não se espera em um estudo sério, pois o uso de um instrumento de medida validado é fundamental para a adequada coleta dos elementos que serão analisados, uma vez que um questionário falho acabará repassando suas falhas aos dados que, então, farão com que se chegue à conclusões tendenciosas, que retratam uma visão distorcida da realidade. Portanto, neste quesito, o estudo deixou a desejar.

Por fim, dentro das questões metodológicas, cabe a análise dos controles utilizados para que a pesquisa se restrinja à população alvo. Em um estudo científico, a população objetivo ou população alvo é um conjunto de todos os elementos abrangidos no estudo que apresentam características próprias, sobre as quais se deseja obter conclusões. No caso em tela, a população alvo compreendeu os estudantes de graduação matriculados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 03 de dezembro de 2013, sendo cada estudante uma unidade elementar distinta. Nota-se que não houve qualquer menção sobre o fato de terem sido considerados somente os alunos com matrícula ativa ou se foram também considerados os alunos com matrícula trancada, mas este é o menor dos problemas como veremos a seguir.

Uma vez definida a população alvo, deve-se definir um sistema de referências que sirva para o mapeamento das distintas unidades elementares da população alvo. Em algumas populações, o sistema de referências pode se tornar extremamente complexo, contudo, no caso em questão, um sistema de referências relativamente simples seria o número do cartão da UFRGS, que é composto por seis dígitos, sendo diferente para cada membro da comunidade universitária. Uma vez que possa ser colocada em correspondência biunívoca as unidades elementares da população alvo com o sistema de referências, temos aquilo que é tecnicamente chamado de população referenciada, na qual será aplicada uma técnica estatística de amostragem com o intuito de obter a população amostrada ou simplesmente amostra, a partir da qual, fazendo uso de estimadores, se fará inferência sobre a população alvo.

Entretanto, como já foi exposto antes, não foi utilizada nenhuma técnica de amostragem probabilística para obtenção da população amostrada, o que constitui uma falha grave neste estudo, contudo, como este ponto já foi discutido, o importante agora é analisar os controles utilizados para delimitar a população alvo. Neste caso, conforme explicitado pelo próprio estudo, foram enviados e-mails para os alunos com acesso para o questionários on-line. Ocorre que, para acessar o questionário, não era necessário nenhum tipo de procedimento de “login”, o que permitia que estudantes, ou pior, terceiros sem vínculo com a Universidade, respondessem o questionário se fazendo passar por outras pessoas, podendo fazer isso repetidas vezes. Ainda, além dos itens de pesquisa dispostos em “Escala de Likert”, o questionário possuía diversas perguntas abertas referentes à caracterização do respondente, permitindo que um aluno (ou terceiro), por exemplo, incluísse informação errada quanto a seu curso.

Logo, a falta de controle sobre a população alvo permitia que elementos que não pertencessem à população objetivo do estudo respondessem o questionário o que, em um estudo que trata de um tema sensível como o preconceito, poderia gerar muita inconsistência nos dados, por exemplo, a partir de um grande volume de respostas extremas por uma pessoa ou grupo de pessoas mal-intencionadas que estejam interessadas em fazer parecer que os estudantes da UFRGS são preconceituosos ou, considerando o grande número de perguntas com respostas abertas na caracterização do respondente, que tenham interesse, por exemplo, em fazer parecer que alunos de um dado curso são mais preconceituosos que de outro curso.

Portanto, a polêmica pesquisa realizada no âmbito do Instituto de Psicologia da UFRGS não contou com controles sobre a população alvo, permitindo a interferência de elementos estranhos, quiçá, mal-intencionados na pesquisa, utilizou uma metodologia de amostragem não-probabilística, que gera amostras tendenciosas, e, por fim, aplicou um instrumento de medida cuja validação é desconhecida. Pelas gritantes falhas técnicas e metodológicas, a conclusão não pode ser outra senão: a pesquisa não tem base técnica suficiente para ter qualquer credibilidade científica, não passando de mais um caso de pseudociência, que embora sirva para propósitos ideológicos, não tem utilidade no âmbito das pesquisas sérias e calcadas em métodos realmente científicos.

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Observações:
1 - O Acadêmico do curso de Letras da UFRGS, André von Kugland, fez uma análise qualitativa dos itens do questionário utilizado na pesquisa, para acessar esta análise clique aqui

2 - Para visualizar o artigo referente à pesquisa sobre preconceito na UFRGS clique aqui

3 - Para visualizar o questionário utilizado na pesquisa clique aqui

4 - Recomenda-se a leitura do seguinte artigo para aprofundamento sobre as limitações e problemas metodológicos relativos à utilização de amostras não probabilísticas em pesquisas:
de Oliveira, TM. Amostragem não probabilística: adequação de situações para uso e limitações de amostras por conveniência, julgamento e quotas. Admin Online [Internet]. 2001. Disponível em: http://www.fecap.br/adm_online/art23/tania2.htm
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*GABRIEL AFONSO MARCHESI LOPES é Cientista Atuarial pela Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS e Estatístico pelo Instituto de Matemática da UFRGS. Possui Pós-Graduação em Perícia e Auditoria pelo NECON/UFRGS. Foi Conselheiro no Colegiado do Departamento de Estatística, na Comissão de Graduação em Estatística e no Conselho do Instituto de Matemática da UFRGS. Atuou como Monitor Acadêmico na UFRGS nas disciplinas de Estatística Geral, Estatística Econômica e Estatística Demográfica. Foi Professor junto ao Departamento de Estatística da UFRGS nas disciplinas de Estatística Geral e de Probabilidade e Estatística.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Da pesquisa sobre preconceito na UFRGS

Por André von Kugland*

Recentemente saiu uma matéria da Zero Hora dizendo que “87% dos alunos da UFRGS têm algum preconceito de gênero ou contra diversidade sexual,” baseada numa pesquisa feita pelo Instituto de Psicologia da UFRGS.

Além disso, a matéria (repetindo o artigo) dizia que, quanto mais religioso o aluno, mais “homofóbico” e “transfóbico”, tentando associar a religião ao ódio irracional. Ocorre, porém, que muitas das perguntas feitas nada têm com preconceito ou ódio, sendo, ao contrário, simples opiniões racionalmente fundadas, enquanto outras dão conta de reações emocionais perante gays, lésbicas e travestis.

O artigo em que foi baseada a matéria não especifica quais perguntas foram feitas, mas por sorte eu mesmo havia recebido este questionário há alguns anos, e estava no inbox do meu Gmail. Analiso, a seguir, algumas das perguntas:

Perguntas no. 1, no. 3, no. 19, no. 20 e 22: “Sexo entre dois homens/duas mulheres é totalmente errado,” ou “A homossexualidade masculina é uma perversão,” ou “Operações de mudança de sexo são moralmente erradas,” ou “Homens e mulheres deveriam ser proibidos de mudar de sexo.”
Não são preconceitos, mas julgamentos morais, que podem ser fundamentados em premissas racionais. Tampouco implicam que quem assim julga odeie gays, lésbicas ou transexuais.

Perguntas no. 2, no. 5, no. 14, no. 16, no. 18: “Eu acho que homens gays/lésbicas/travestis são nojentos(as)”, ou “Os homens afeminados/mulheres masculinas não me deixam à vontade.”
Obviamente não é um preconceito, mas uma reação emocional de rejeição, não muito diferente daquela do gay que “tem nojo de perereca”, ou da lésbica que tem “nojo de pinto”. E não é necessariamente “homofobia” ou “transfobia” porque não implica que a pessoa odeie gays, lésbicas ou travestis.

Pergunta no. 4: “Eu preferiria que meus filhos fossem heterossexuais.”
Também não implica preconceito ou ódio: há muitos motivos para preferi-lo além do ódio e do preconceito.

Pergunta no. 6: “Eu não me sentiria a vontade em consultar com um médico homossexual.”
Não implica preconceito ou ódio: um homem pode não querer ficar nu na frente de um médico gay pelo mesmo motivo que não o quereria ficar na frente de uma médica mulher, porque se sentiria desconfortável imaginando que talvez o médico(a) sentisse algum desejo por ele. É exatamente a mesma situação da mulher que não vai a ginecologista homem, que é muitíssimo comum.

Pergunta no. 10: “Crianças deveriam brincar com brinquedos apropriados para seu próprio sexo.”
Preferir preservar papéis de gênero tradicionais não é o mesmo que ter preconceitos ou odiar homossexuais ou transexuais.

Pergunta no. 12: “Eu não confio em lésbicas.”
Essa pergunta é uma das poucas que poderiam indicar um preconceito, contanto que fosse reformulada como “lésbicas não são confiáveis.” Aí, sim, haveria, indiscutivelmente, preconceito.

Pergunta no. 16: “Eu iria a um bar freqüentado por travestis.”
Não ir a bares freqüentados por travestis não implica que se odeiem os travestis, caralho. Os bares podem ser ruins, mal localizados, perigosos.

Pergunta no. 17: “Eu apóio os homens gays, mas não gostaria de ser confundido com eles.”
Para não ser preconceituoso é necessário querer ser confundido com gays? Que chances tem um homem com o sexo oposto, se ganhar fama de homossexual? Por que um homem heterossexual iria querer isto?

Pergunta no. 21: “Eu não consigo entender por que uma mulher se comportaria feito um homem.”
Não entender uma coisa não é um preconceito, e nem é ódio. Eu não entendo como alguém pode se sentir sexualmente excitado vendo pés, ou como alguém pode gostar de bife de fígado, ou como alguém pode querer se arriscar a escalar o Everest. Implica que odeie podólatras, apreciadores de bife de fígado ou alpinistas? Não. Implica que tenha algum preconceito em relação a estas pessoas? Não.

Enfim, vendo as perguntas do questionário, chega-se à conclusão de que não, ele não consegue diagnosticar homofobia — o ódio irracional a pessoas homossexuais —, nem tampouco o preconceito. E é, na verdade, uma peça de propaganda contra as religiões tradicionais.


Artigo do estudo: http://link.springer.com/article/10.1007/s13178-015-0191-z (Quem é aluno pode acessar o texto através do proxy.)



*ANDRÉ VON KUGLAND é acadêmico do curso de Letras da UFRGS.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

O ParanaPrevidência em voga: uma análise técnica em meio aos debates políticos

Os impactos da migração de beneficiários do Fundo Financeiro para o Fundo Previdenciário na solvência do sistema de previdência paranaense e nas finanças estaduais

Por Gabriel Afonso Marchesi Lopes*

A polêmica que está ocorrendo no Paraná, envolvendo o Governo Estadual e o funcionalismo, em especial os professores, gira em torno dos projetos de reforma do ParanaPrevidência, que é um serviço social autônomo paradministrativo, criado durante o governo Jaime Lerner, cujo objetivo é garantir o pagamento das aposentadorias e pensões dos servidores públicos estaduais, através da criação de fundos de previdência e de um sistema contributivo capaz de gerar equilíbrio financeiro e atuarial.

O Fundo Previdenciário do ParanaPrevidência é uma forma de poupança que tem como objetivo pagar as aposentadorias futuras do funcionalismo estadual, sendo formado por recursos provenientes da contribuição dos servidores e pensionistas, mais a contrapartida do Governo do Estado. Os beneficiários contribuem com 11% da remuneração, enquanto o Governo do Estado do Paraná contribui com igual montante. Um dos pontos do Projeto de Lei que envolve a reforma previdenciária prevê que o percentual de participação governamental aumente para 22% até 2016. 

Cabe destacar que, atualmente, o Fundo Previdenciário possuí uma posição superavitária, estando capitalizado em mais de R$8,5 bilhões em caixa. Além disso, o Projeto de Lei prevê que o Fundo Previdenciário terá aportes no montante de R$1 bilhão, oriundos de repasses de royalties da Usina Hidrelétrica da Itaipu. Estes aportes, por si só, garantiriam a solvência do ParanaPrevidência por pelo menos mais 29 anos.

Dados do ano passado indicam que o ParanaPrevidência possuí um dispêndio mensal de cerca de R$497 milhões, arcando com os benefícios previdenciários de mais de 106 mil aposentados e pensionistas, todavia este número representa apenas 14% dos inativos do Paraná, sendo a maioria atendida pelo Fundo Financeiro, que realiza o pagamento dos benefícios de previdência funcional dos servidores públicos estaduais inativos, dos militares reformados ou na reserva remunerada e dos pensionistas, sendo arcado integralmente pelo Governo através do Tesouro Estadual.

O Projeto de Lei, apresentado pelo Governo do Paraná e aprovado pela Assembleia Legislativa Estadual, não propõe a extinção do Fundo Financeiro, mas a migração de uma pequena quantidade de beneficiários, que tem 73 anos ou mais, deste fundo para o Fundo Previdenciário, no que vale lembrar que, conforme dados do IBGE divulgados no ano passado, a expectativa de vida ao nascer no Paraná é de 76,2 anos.

Com esta medida, o Governo do Estado deixará de pagar sozinho as aposentadorias desta parcela de inativos. O Fundo Financeiro continuará sendo a principal fonte pagadora de aposentadorias no Estado, porém esta medida irá criar uma economia de aproximadamente R$125 milhões mensais com o pagamento de benefícios, o que é algo bem impactante considerando a atual conjuntura vivida pela administração pública do Paraná, imersa em um cenário de grande dificuldade financeira, principalmente em razão da retração da economia.

Em suma, a medida do Governo visa restabelecer o equilíbrio das finanças estaduais, mas sem comprometer as futuras aposentadorias do funcionalismo, pois a mesma não coloca em risco o pagamento de pensões ou a solvência do sistema, uma vez que a parcela dos aposentados a ser absorvida pelo Fundo Previdenciário possuí baixa expectativa de vida e também está previsto um aumento do aporte no fundo por parte do Governo, passando dos atuais 11% para 22%, além de repasses de royalties da Usina de Itaipu.


*GABRIEL AFONSO MARCHESI LOPES é Bacharel em Ciências Atuariais pela Faculdade de Ciências Econômicas (FCE) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Bacharel em Estatística pelo Instituto de Matemática (IM) da UFRGS e Pós-Graduado em Perícia e Auditoria (2014) pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Contabilidade (NECON) da UFRGS. Foi Professor na UFRGS nas disciplinas de Probabilidade e Estatística e de Estatística Geral.
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