sexta-feira, 22 de maio de 2015

Viés ou foco?

Por Régis Antônio Coimbra*

Há uma pesquisa apontando que 87% dos estudantes da UFRGS são preconceituosos. A pesquisa merece críticas pela metodologia estatística. Para mim o problema é outro: dizer que a maioria das pessoas é preconceituosa é não dizer nada; é dizer que a maioria das pessoas é educada numa dada cultura que tem certos estereótipos. É importante definir o que é ser significativamente preconceituoso.

O pai que prefere que o filho não seja gay não é preconceituoso, é apenas brasileiro, tem um ideal de filho (comedor) e de filha (não puta) etc. Para o pessoal ultra politizado até que o próprio filho desmunheque o problema não é diferente do cara tosco que após se escabelar, querer levar no pastor ou no psicólogo para curar o filho, acaba se acostumando e defendendo o filho... com algum constrangimento (se possível, vai mentir para os amigos).

Isso é uma coisa. Outra coisa é o cara ser um ativista anti-gay. Isso nem o "casca-grossa", no mais das vezes, é.

Um detalhe engraçado: assim como o pessoal "limpinho" tem desconfiança com o pessoal hipponga, cabeludo, com as feministas peludas etc, os hippongas etc também têm preconceito com os mauricinhos, policiais etc. Isso significa apenas que pertencem a grupos ou "tribos" diferentes cuja identidade se estrutura em parte pela idealização dos semelhantes e desumanização dos diferentes. O engraçado é que o pessoal "humanista" critica os "de direita" como toscos, preconceituosos etc e não se dá conta de que o é, simetricamente...

Ressalvado isso, sim, gays, negros, mulheres, velhos, pobres enfrentam dificuldades especiais em nossa sociedade que tem como modelo o homem, branco, heterossexual, sarado, de classe média alta, jovem.

Por isso é ridículo um "orgulho hétero" ou "branco". Não é necessário, já estão no topo etc... os negros, mulheres, gays etc precisam em parte do ativismo seja para entenderem a própria condição, seja para conquistar espaço... Claro que, como trágica ironia da desvantagem de suas posições, ao fazer isso justo os mais desequilibrados (podemos em parte justificar que são desequilibrados por enfrentarem um estresse maior) é que se destacam e o feminismo acaba associado com mulheres gordas, autoritárias, peludas etc (até aí... tudo bem, digamos) com frases como "coito anal contra o capital" pintado no peito.


*RÉGIS ANTÔNIO COIMBRA é Filósofo e Advogado pela UFRGS. Especialista em Direito e Economia, e Acadêmico da Licenciatura em Dança. Foi Professor na UFRGS no Departamento de Direito Privado e Processo Civil, ministrando aulas na disciplina de Instituições de Direito e, atualmente, é Professor no Colégio Tiradentes da Brigada Militar, ministrando aulas de sociologia.

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