sexta-feira, 28 de março de 2014

31 de março ou 1º de abril? Revolução ou golpe? Golpe ou contra-golpe? Militar ou civil e militar? Ditadura ou ditabranda?

Por Régis Antônio Coimbra*

Penso que foi um contra-golpe; que até pretendia ser uma medida pontual e auto-limitada que se corrompeu; que foi civil e militar; que iniciou ditabranda, complicou-se ditadura e terminou, novamente, ditabranda.

Só vivi com alguma clareza sobre o que estava vivendo na fase final de, nova e radicalmente, ditabranda. Tinha entre 15 e 16 anos em 1984, no então segundo grau (equivalente ao ensino médio atual), no Colégio Parobé, quando saímos brandando "greve geral derruba o general" e outras palavras de ordem abusadas. Curiosamente, a Brigada Militar diligentemente nos escoltava. Nosso objetivo: entregar uma carta com reivindicações para o secretário da educação. Fomos até ele, que nos recebeu e disse que faria o possível... Não lembro se voltamos em "formação" ou se dispersamos, mas eu saí profundamente confuso: como assim "greve geral derruba o general" e tudo bem? Perdi o respeito ali mesmo pela retórica da esquerda que, no caso, chutava um cachorro morto tentando despertar alguma reação e o acusar de violento etc.

Felizmente não vivi a ditabranda do governo de Castelo Branco. Fico pensando que destino teria eu fazendo o que faço hoje: ensinando sobre Karl Marx. Desconfio que poderia me render um afastamento do serviço público e que não adiantaria explicar que não sou marxista etc. No governo seguinte a consequência poderia ser muito, muuuito pior, pela mesma "traição".

Seja como for, acredito que com os valores que tenho hoje e com as informações que provavelmente teria na época eu apoiaria, em 1968, o contra-golpe. Com as informações que tenho hoje, no entanto, considero que não havia necessidade de derrubar Jango, um estancieiro populista brincando de comunista. No entanto, na época, e isso hoje é difícil de aceitar ou entender, tanto os pró-comunismo achavam que poderiam implantar mais ou menos sem traumas um socialismo mais ou menos "moreno" (como diria Brizola), quanto os anti-comunistas (dentre os quais me incluiria) temiam que pudesse ocorrer conforme uma série de sinalizações - o problema de se levar a sério populistas, cujo discurso é feito para agradar quem se pensa que pode ser agradado.

Jango fez uma série de apostas equivocadas que foram equivocadamente compradas pela classe média. Sem querer ofender os militares, os cachorros foram soltos e não voltaram para o canil. Inventaram-se novas razões para que ficassem soltos e, no meu entender, esse funesto resultado é a maior "contribuição" dos agora não raro celebrados como heróis da resistência pela democracia - os guerrilheiros que, não poucos, hoje ocupam importantes postos políticos, inclusive, no momento, a presidência da República.

Entre a truculência dos militares que, reitero, provavelmente me prenderiam e arrebentariam por eu discutir Marx (mesmo discordando, apontando falhas colossais, ainda que em parte decorrentes das limitações dos economistas clássicos do qual era tributário) e a defesa da democracia dos guerrilheiros, eu penso que a truculência dos militares me faria menos mal ou, fazendo mal, teria menor probabilidade de me "justiçar" ou contabilizar como "dano colateral" - ou, em hipótese menos catastrófica, o estatismo moderado dos militares me empobreceria menos do que me escravizaria o estatismo intermediário por tempo indeterminado (enquanto o comunismo não fosse viável mundialmente... o que certamente envolveria toda minha vida e de várias gerações...).


*RÉGIS ANTÔNIO COIMBRA é 1º Vice-Presidente do Movimento Estudantil Liberdade. Filósofo e advogado formado pela UFRGS. Especialista em Direito e Economia e, atualmente, é Acadêmico da Licenciatura em Dança pela UFRGS e Professor no Colégio Tiradentes da Brigada Militar.

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