sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Veni, vidi, vici

Ascensão e queda do “DCE de Verdade”

As eleições para o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (DCE/UFRGS) terminaram ontem, dia 20 de novembro, com um resultado surpreendente, qual seja: a maior derrota já sofrida por uma chapa de situação no movimento estudantil universitário.

Ainda que se possa apontar muitos motivos para tal resultado, o que se sobressai em relação aos demais é a desonestidade e a falta de honra do “DCE de Verdade”, grupo que foi eleito no ano passado a partir de uma construção com diversas bases, entre as quais o Movimento Estudantil Liberdade. Todavia, uma vez eleito o “DCE de Verdade” se apressou em atacar justamente aqueles que o apoiaram, que o ajudaram a assumir o comando da entidade máxima dos estudantes na UFRGS.

A gestão, de maneira egoísta, se pautou pela máxima do maquiavelismo a partir da qual se considera que que entre seus inimigos estão companheiros, isto é, que devem ser repelidos mesmo aqueles companheiros mais próximos, que te ajudaram a ali chegar, para manter o poder. Dessa forma, não há como não traçar um paralelo entre tal atitude e aquela do Grande Expurgo de Stálin, que para consolidar sua posição liquidou cerca de dois terços dos quadros do Partido Comunista da URSS.

Ocorre que, por incrível que pareça, o “DCE de Verdade”, apesar de fortemente pautado pela oposição ao coletivismo e pela exaltação ao individualismo, olvidou-se da força que tem um único indivíduo que entendeu que a injusta traição que sofrera não poderia jamais ficar impune e traçou como objetivo a redenção do Movimento Estudantil Liberdade através da elucidação da verdade sobre os fatos.

Assim, a peleia estava armada. De um lado, os traidores arrogantes que, apesar de serem muitos, eram estúpidos e pouco inteligentes, de outro um e apenas um estrategista extremamente habilidoso, que inclusive teve seus feitos reconhecidos por membros da gestão “DCE de Verdade” que lhe imputaram a alcunha de “Gênio do Mal”, talvez um trocadilho relativo à sigla MEL (Movimento Estudantil Liberdade).

Outrora, em nossa história, tivemos a figura de Carlos Lacerda, jornalista e político, que ficou conhecido como “derruba-presidentes” por sua participação em ações que levaram o fim ao mandato de dirigentes nacionais como Getúlio Vargas, Jânio Quadros e João Goulart. Não se pode afastar certo lacerdismo no caso do DCE da UFRGS, no que cabe lembrar que o presidente Juscelino Kubitschek impediu que Lacerda tivesse concessão de canais de televisão, afirmando, anos após seu governo, que se permitisse isto poderia ter lhe custado a Presidência. 

Felizmente (ou infelizmente para alguns), os gestores do “DCE de Verdade” não possuíam a visão de Kubitschek e eram pessoas ignorantes que sofreram os primeiros golpes do contra-ataque em razão justamente de sua falta de habilidade em lidar com a imprensa, imperícia esta que perdurou por toda a gestão e que foi fundamental para seu fim. De fato, havia uma briga de egos que impedia que enxergassem além de um palmo.

Além disso, o “DCE de Verdade” teve falhas crassas para além das traições. Falhas que comprometeram seu próprio discurso e sua credibilidade junto aos estudantes. O grupo se elegeu sob a égide do apartidarismo, porém tão-logo foi eleito e já nomeou Daniel Franco Martins, do PDT, como conselheiro no Conselho de Curadores (CONCUR). Criticava durante a ausência de prestação de contas de outras gestões, mas também não apresentou prestação de contas, que é semestral e não anual segundo o Estatuto da entidade. Abraçou a bandeira da representação discente atuante, reclamando dos RDs dos demais grupos políticos da UFRGS que perdiam os mandatos por não irem nas reuniões, porém seus RDs Carlos Marcelo Velloso Wendt e Lucas Scherer Gomes também perderam seus mandatos na Câmara de Extensão (CAMEX) por descumprimento do número máximo de faltas não justificadas.

Em meados de 2014 a situação era insustentável e levou membros do “DCE de Verdade” a pedirem uma trégua ao Movimento Estudantil Liberdade e, novamente solicitar sua ajuda, que mais uma vez foi dada. Porém, um velho ditado gaudério diz que “cachorro mordido de cobra tem medo de linguiça!”, logo, prevendo nova traição por parte dos membros do “DCE de Verdade”, foram feitos registros para que os estudantes não fossem novamente enganados. E foi dito e feito: com a regularização da situação, o “DCE de Verdade” votou a trair o Movimento Estudantil Liberdade. Mas já era tarde demais.

A cartada final do “DCE de Verdade” foi abrir um processo com informações e alegações falsas contra o MEL com o objetivo de calar o grupo durante as eleições para o DCE. Não deu certo. O Juiz Luiz Augusto Guimarães de Souza indeferiu a antecipação de tutela. Recorreram. O Desembargador Túlio de Oliveira Martins negou provimento ao recurso alegando que a prova trazida aos autos era deficiente. Entraram com agravo. A Décima Câmara Cível do Tribunal de Justiça negou provimento ao agravo informando que não veio aos autos qualquer elemento ou argumentação no sentido de alterar a decisão agravada.

Fanfa fala sobre esquemas envolvendo festas do DCE
(clique para ampliar)
No dia 06 de novembro de 2014, áudios de conversas entre membros da gestão “DCE de Verdade” com o Presidente do MEL vazam na internet. O Vice-Presidente do DCE da UFRGS Jardel Tessari, estudante de Medicina, renuncia. No dia 10 de novembro, novos áudios caem na internet e o Diretor de Esportes do DCE da UFRGS, Fábio Borges Fanfa, que disputava as eleições pela chapa 1, pleiteando o cargo de Diretor de Infraestrutura, pede desligamento da chapa e denuncia um esquema envolvendo festas organizadas pelo “DCE de Verdade”.

Finalmente, no dia 11 de novembro, com mais uma divulgação de áudios entre membros da gestão “DCE de Verdade”, Coordenadores-Gerais da Chapa 1, e membros do Movimento Estudantil Liberdade, a gestão do DCE da UFRGS vê que não é mais possível sustentar a mentira que criaram e, em nota oficial, assinada pela então Executiva do DCE, Lucas Herbert Jones (Presidente), Jardel Pereira Tessari (1º Vice-Presidente até 10/11/14), Bernardo de Abreu Bortoluzzi (2º Vice-Presidente), Renato Augusto Rabuske Zülke (Secretário-Geral) e Fábio Borges Fanfa (Diretor de Esportes) admitem que houve sim relações entre membros do “DCE de Verdade” (gestão 2014) e membros do MEL/DCE Livre. Assim, a gestão do DCE capitulou e a verdade finalmente veio à tona.

As eleições para o DCE da UFRGS ocorreram nos dias 18, 19 e 20 de novembro. O resultado foi sabido na madrugada do dia 21: A Chapa 1 – DCE de Verdade: Nosso partido é o estudante 2.0, que representava a situação, sofreu a maior e mais vergonhosa e humilhante derrota de uma chapa situacionista na história do movimento estudantil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Houve muitas vitórias nesta eleição, mas sem sobra de dúvidas a maior delas foi do Movimento Estudantil Liberdade, que provou ser inocente em relação às acusações que sofrera por parte do “DCE de Verdade”. Que provou ter sido usado pelos membros do “DCE de Verdade” e que foi traído pelos mesmos, apunhalado pelas costas e que, mesmo assim, voltou, lutou o bom combate, venceu e lavou sua honra.

Escute os áudios das conversas entre o DCE de Verdade e o DCE Livre:
Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=24ktxzOSK8M
Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=ShyaVxNIkmg
Parte 3: https://www.youtube.com/watch?v=vMsXs7HVQcA

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