Por Gabriel Afonso Marchesi Lopes*
Dilma tomou posse em seu segundo mandato anunciando que seu governo teria como lema “Brasil, Pátria Educadora”, logo em seguida anunciou o corte de R$600 milhões mensais das universidades federais. Em 2011, Cid Gomes, agora nomeado Ministro da Educação, disse que professor “deve trabalhar por amor, não por dinheiro”, e ainda completou: “quem quer dinheiro deve procurar outra profissão”. Ocorre que os cortes afetam não apenas os salários dos docentes, mas também os serviços e a infraestrutura educacional do país.
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde lecionei como Professor Substituto no ano passado, assim como muitas outras Universidades Federais, vem padecendo com a falta de investimentos. Houve uma grande expansão do corpo discente, a partir, sobretudo, do atendimento de metas do REUNI, com a criação de novos cursos e aumento da oferta de vagas nos cursos já existentes, porém não houve a devida contrapartida em termos de investimentos.
Em 2012, o Teatro do Departamento de Artes Dramáticas - Sala Alziro Azevedo – foi interditado por risco de incêndio, em razão de problemas na precária rede elétrica. No ano seguinte, o Restaurante Universitário do Campus do Vale foi fechado pela Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde (CGVS) de Porto Alegre por falta de condições sanitárias adequadas e, logo em seguida, o rompimento de um cano no prédio onde fica a Biblioteca Setorial das Ciências Sociais e Humanidades (BSCSH) provocou o alagamento de parte do acervo de quase 200 mil volumes do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH).
O ano de 2014 não foi diferente, em junho foi inaugurado o novo prédio de salas de aula da UFRGS, conhecido como Prédio Branco. Durante a cerimônia constatou-se que as escadas do mesmo estavam escoradas com vigas de madeira, unidas com pedaços de pano. Além disso, havia rachaduras e trincas em várias partes do prédio. Sem surpresa, o Ministério Público Federal, com base em laudos técnicos apontando que o local apresentava problemas de construção que colocavam em risco a vida e a integridade física de estudantes, professores, servidores e pessoas que frequentam o prédio, pediu a interdição do Prédio Branco apenas 4 meses após a inauguração.
Houve novamente problemas nos Restaurantes Universitários e um caldeirão no RU do Campus do Vale explodiu ferindo gravemente quatro funcionários. Relatos e fotos mostraram que o local, que já havia sido fechado pela Vigilância Sanitária em 2012, apresentava condições precárias e o risco de um acidente era iminente. Como todos os RUs usavam o mesmo modelo de caldeirão para o preparo de feijão, o alimento deixou de ser servido aos estudantes até o final do ano. Ainda, novamente por problemas de infraestrutura, houve o alagamento do prédio do Instituto de Letras e as aulas tiveram que ser suspensas.
Agora, mal começou o ano de 2015 e as escadarias do Instituto de Matemática (IM), que levam até os gabinetes dos professores do Departamento de Matemática Pura e Aplicada e do Departamento de Estatística, foram interditadas por risco de desabamento. Considerando que os prédios daquele setor do Campus do Vale datam da mesma época e foram construídos de maneira similar, não se pode descartar a possibilidade do mesmo problema afetar as escadaria e prédios dos demais institutos. Além disso, há muito já se ouve sobre problemas de goteiras e de energia nos gabinetes do IM.
Desta forma, é contraditório e hipócrita falar em “Pátria Educadora” quando se corta os investimentos em Educação que são imprescindíveis para que não se criem situações como aquelas vistas na UFRGS, onde temos um curso de teatro sem teatro, falta de salas de aulas por interdição de um prédio recém inaugurado, professores que não podem acessar seus gabinetes e um restaurante reprovado pela Vigilância Sanitária. Para se educar é necessário investir em infraestrutura, pois não é superlotando uma sala de aula precária que teremos, milagrosamente, as mentes e os profissionais capacitados e fundamentais para o progresso nacional.
*GABRIEL AFONSO MARCHESI LOPES é formado em Ciências Atuariais (UFRGS/2007) e em Estatística (UFRGS/2013), com Pós-Graduação em Perícia e Auditoria pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Contabilidade da UFRGS. Atuou como Docente em Probabilidade e Estatística na UFRGS e como Monitor Acadêmico em diversas disciplinas do Departamento de Estatística e do Departamento de Matemática Pura e Aplicada da UFRGS.
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