Por Régis Antônio Coimbra*
Não questiono a possibilidade de uma gravidez indesejada ser transmutada numa paternidade e maternidade responsável, até porque é a maioria dos casos de paternidade e maternidade "feliz" (apesar dos muitos ônus). Não deixo de ser fortemente contra o aborto. Questiono o efeito prático, cínico, utilitarista radical de uma tal oferta: "não quer gestar, parir, cuidar e educar, então aborta, por favor!"
Nesse tão machista impropério, não se questiona tanto a sexualidade da "puta", mas o caráter do filho dessa não exatamente puta. Sem dúvida, muitos transcendem o infeliz início como filho indesejado e, pior, pouco ou mal cuidado pela mãe, sem talvez nenhuma referência paterna. No entanto, "sem pai nem mãe", por mais resilientes que sejam as crianças, muitos adultos são severamente prejudicados em parte importante de sua socialização.
Talvez o problema nem seja a mãe rancorosa ou superprotetora, ou a ausência de um pai não raro mais simbólico do que presente. O maior problema pode estar no contexto de vulnerabilidade de mães jovens, em lares confusos, em bairros desamparados pelo estado e problematicamente protegidos pelos traficantes, ressalvados o fogo cruzado entre concorrentes.
A questão que resta, em todo caso, é se podemos assumir o genocídio de sabe-se-lá quantos filhos indesejados ou inconvenientes para evitar o surgimento de alguns (talvez 10% de) potenciais filhos da puta?
Minha posição é a aparentemente paradoxal defesa do aborto e mesmo de sua oferta descomplicada pelo SUS, ressalvado que sou forte e profundamente contra. Deve ser fácil de fazer e extremamente difícil de justificar; é importante que seja exacerbado como decisão difícil, embora, havendo a decisão pela mulher, ela seja extremamente fácil e segura.
*RÉGIS ANTÔNIO COIMBRA é 1º Vice-Presidente do Movimento Estudantil Liberdade. Filósofo e advogado formado pela UFRGS. Especialista em Direito e Economia e, atualmente, é Acadêmico da Licenciatura em Dança pela UFRGS e Professor no Colégio Tiradentes da Brigada Militar.