O DCE Livre - Movimento Estudantil Liberdade, em defesa da democracia, publica o contraponto escrito por Liziane Edler em relação à imagem de Natal do DCE Livre/MEL.
CONTRAPONTO: MINHA OPINIÃO SOBRE A IMAGEM NATALINA VINCULADA NA PÁGINA DO DCE LIVRE – MOVIMENTO ESTUDANTIL LIBERDADE
Por Liziane Edler*
Não faço parte de nenhum partido, nem grupo estudantil, e o meu texto não tem qualquer orientação política. Sou feminista, e escrevo sobre o tema no meu blog e página pessoal, mas minha manifestação não é contra o machismo pessoalizado e isolado em uma única postagem, por isso, friso que não estou fazendo uma crítica individualizada. O meu texto é sobre construção de gênero, e o quanto ela pode passar despercebida quando os discursos não se aprofundam, e as pessoas se limitam a repetir, incansavelmente, frases prontas e imbuídas de preconceitos seculares.
Eu não conheço as pessoas que participam do Movimento Estudantil Liberdade, mas estou aproveitando o espaço que uma delas me cedeu para fazer uma crítica à imagem de mulheres semi-nuas que foi postada na página do referido Movimento. Na imagem, as mulheres exibem uma postura sexy, usam calcinhas do tipo fio-dental e estão sem a parte de cima da roupa (mas seus seios não aparecem). Eu li os comentários sobre o assunto na página, e muitos argumentaram que as mulheres eram modelos e foram pagas para tirar a foto, ou seja, exibiram seu corpo voluntariamente. De fato, é um argumento factível, porém, como citei acima, falta um aprofundamento que eu tenho a intenção de propor.
Imagens semelhantes a essa estampam capas de revistas e outdoors todos os dias em quase todos os cantos do mundo. Mulheres com as bundas expostas fazem a abertura de programas como o Pânico na TV e, durante entrevistas, têm pouco espaço de fala. Mulheres que estão sendo pagas e que também se apresentam voluntariamente para esse tipo de trabalho. Mulheres que também cresceram em uma sociedade patriarcal, que viram outras mulheres sendo sexualizadas constantemente, que aprenderam que seu valor seria sempre proporcional à sua beleza e capacidade de atrair.
Mas, afinal, se todos somos livres, por que não pode haver quem queira se expor, e outro que deseje “apreciar a beleza” exposta, como bem defendeu alguém em um dos comentários? A minha resposta pode parecer um desvio ao assunto, mas, na verdade, é um convite a mergulhar em questões que não costumam ser discutidas quando esse tema é levantado. Toda a pessoa produz suas preferências a partir de parâmetros do que dispõe ao seu entorno, e essas preferências irão se restringir, até mesmo ao ponto de restar apenas uma possibilidade, se a sociedade for opressora ao ponto de não lhe oferecer mais alternativas. A mesma sociedade que fabrica modelos inatingíveis de beleza, que produz comésticos, que dedica quase toda a indústria da moda ao público feminino, que cria impedimentos abismais para a entrada da mulher em cargos políticos e que reproduz, todos os dias, a imagem publicitária da mulher bela e sexualmente rentável. A exposição do corpo da mulher rende fortunas, e essas somas enormes, quando distribuídas, permanecem nas mãos dos homens, pois a feminização da pobreza é um problema reconhecido em muitos países.
O Movimento Estudantil Liberdade tem o direito de vincular a imagem de mulheres em posição sexy tanto quanto as modelos têm o direito de exibir seus corpos quando e como bem entenderem. Mesmo assim, eu escrevo esse texto, porque eu gostaria de ver mais imagens de mulheres pesquisadoras, empresárias, engenheiras, advogadas, economistas, empreendedoras. Eu gostaria de ter mais possibilidades com as quais pudesse me identificar, e mais certeza quanto à liberdade que meu gênero dispõe para exercer o papel que quiser. Esse espaço me foi cedido agora, portanto, eu o aproveito para compartilhar a imagem que gostaria de ver com a mesma frequência com que sou bombardeada pela mídia com seios grandes e bundas “photoshapadas”... E, para finalizar, pergunto a todos que ainda negam as diferenças de tratamento aos gêneros na nossa sociedade: podem me explicar por que a imagem não era de um grupo de homens musculosos com touquinhas de papai noel?
*LIZIANE EDLER é Acadêmica da Faculdade de Direito da UFRGS.
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