quarta-feira, 20 de junho de 2012

Marxistas do mundo, estudem!

Por Régis Antônio Coimbra*

É de contrair as coronárias ver marxistas já de uma considerável idade repetirem as coisas mais elementarmente erradas de Marx. A culpa dos principais erros de Marx é do seu tempo, mas a dos marxistas de hoje é deles mesmos (ou de algum complô de outros marxistas que os enrolam e acabam se enrolando junto).

Para ajudar, vou lembrar mais uma vez:

1. Marx se baseou na teoria do valor disponível, dos economistas clássicos, que não dava conta da remuneração do capitalista e do empresário;

2. Mas Eugen von Ritter Böhm-Bawerk resolveu a charada: o capitalista (e o empresário mesmo que não entre com capital financeiro) geram riqueza a qual deve ser remunerada (juros para o capitalista "puro", que só arrisca seu capital; "pro-labore" para o empresário que só administra... adaptando um pouco);

3. sem esse detalhe, não tem como fechar a conta e acabamos com uma versão ilusória da exploração (que há) no capitalismo.

Dito isso, que assusta os marxistas vulgares (parodiando Marx, hehe...), podemos buscar no próprio Marx os elementos que tornam o autor ainda atual:

4. a principal alienação decorre da formação especializada de "trabalhadores" e de "burgueses", de trabalhadores braçais ou subalternos e de "executivos";

5. a conversa da mais valia surrupiada só faz sentido se acabamos com a própria distinção entre trabalhador subalterno que não decide, apenas executa, e a do capitalista, empresário ou executivo que toma decisões. No contexto especializado em que vivemos, os trabalhadores (explorados...) precisam dos capitalistas e empresários e substituí-los por burocratas costuma dar bode - algo como substituir os burgueses "orgânicos" por burgueses biônicos (no mau sentido).

6. não haverá revolução socialista ou, o que houver, não sendo hegemônico, nunca sairá da "ditadura da burocracia" precisamente pelo estado de guerra permanente com o resto do mundo (capitalista) e os efeitos de guerra de informação e justificativa para radicais faltas de democracia; e sem democracia ampla não há homem integral; ao contrário, a alienação aí sim é deliberada, planejada, sistematizada - ok, no capitalismo também há alienação.

7. não existe mais o proletariado... a figura foi desaparecendo nos países "centrais" com a queda radical da taxa da natalidade, fim do ciclo "ecológico" descrito por Smith, no qual qualquer aumento de produtividade que implicasse aumento da renda dos trabalhadores significava aumento do número de filhos sobreviventes e reestabilização em novo patamar de, novamente, mera subsistência (ainda que de mais dependentes). Findo o lado "proletário" da classe trabalhadora, ela passou a ser consumidora importante e a nova alienação não é de salário, é de perspectiva - a classe média até metida a chique é escrava do consumismo (os emergentes, os pobres e os quase miseráveis estão paradoxalmente na mesma, só que consomem produtos mais vagabundos).

8. assim, reitero, não haverá revolução por acirramento da luta de classes: a classe trabalhadora padece da mesma alienação da burguesia, a especialização e o consumismo. A "revolução" terá de se dar pelo esclarecimento e, pior... pós-estruturalista, pós-moderno etc - com as inevitáveis viagens meio new age com mistificações da física quântica etc... isso é, vai demorar e periga substituir burgueses e burocratas por gurus...


*RÉGIS ANTÔNIO COIMBRA é filósofo e advogado formado pela UFRGS. Especialista em Direito e Economia e, atualmente, é Acadêmico da Licenciatura em Dança pela UFRGS.

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